De cronicamente online para intencionalmente offline
Talvez tenha chegado a hora de parar de correr pra tudo e começar a correr de tudo.
A expressão “cronicamente online” significa estar tão conectado às redes sociais, a ponto de conhecer todos os memes, trends e assuntos do momento. É ser moldado por uma linguagem própria e por referências que só quem também está imerso neste universo online vai entender.
Normalmente quem é cronicamente online sofre de “fomo - fear of missing out” (medo de perder algo), ou seja, de estar deixando passar alguma informação, de se sentir por fora de algum assunto, de estar desinformado sobre as últimas notícias (mesmo que essas notícias não sejam bem notícias, mas só uma nova trend que todos estão repostando).
É humanamente impossível estar presente em todos os lugares ao mesmo tempo (mesmo que virtualmente), bem como consumir infinitas fontes de conteúdo em um feed infinito dentro de finitas 24 horas por dia.
Já pensou o quão cansativo é se manter cronicamente online? Não à toa a nossa saúde mental vem declinando e pedindo cada vez mais socorro.
A conta não fecha: é informação demais para tempo de menos. Não temos tempo para ler um texto longo, pois logo ali no próximo post tem um outro conteúdo que já aguarda para ser consumido. E este próximo assunto é, provavelmente, um vídeo curto, porque também não dá pra ficar perdendo tempo em produções demoradas demais… não há tempo pra absorver nada e nem paciência para esperar por qualquer coisa.
Assim, vamos ficando cada vez mais cheios de conteúdos rasos e vazios de informações relevantes.
O online, como o próprio nome diz, nos deixa ligados. E não só isso, nos deixa acelerados.
Estamos disputando uma corrida constante no mundo virtual. Corremos para nos inteirar de todos os conteúdos e corremos para acabar logo uma série no streaming. O que é irônico, se pensar que dificilmente toparíamos ver um filme de quatro, cinco, seis horas, mas maratonamos horas seguidas de episódios de vinte, trinta, sessenta minutos cada.
E a corrida também continua no mundo físico. Corremos para chegar no horário, corremos para entregar resultados, corremos para dar conta de tudo. Será que é por isso que as corridas de rua também estão na moda? Parece que o ritmo do digital se misturou com o da vida real…
Talvez tenha chegado a hora de parar de correr pra tudo e começar a correr de tudo.
Correr dessa pressa e dessa overdose de consumo. Correr desse ritmo insano que nos deixa exaustos e frustrados por nunca chegarmos lá.
Talvez seja o momento de desacelerar, de desligar. Talvez seja o momento de estar offline.
Não dá pra estar on o tempo todo. Todo mundo precisa do off para o on não pifar. Para o on funcionar direitinho, o off precisa intercalar a rotina.
Na vida (real e digital) estamos destruindo o limite do saudável. Aliás, será que alguém ainda lembra o que é limite? Até máquinas precisam do off para recarregar a energia ou para esfriar, não superaquecer. Até máquinas tem um limite de capacidade.
E nós? Ah, nós… somos apenas seres humanos.
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Meu pensamento por trás do texto:
Cansei de ter fomo e agora quero mais é jomo (joy of missing out), ter alegria por não saber de tudo, mas apenas aquilo que realmente importa e faz sentido pra mim.
Quero mais é consumir e também criar o slow content, aquele conteúdo feito sem pressa, com carinho, sem focar apenas no engajamento, e que resgata o verdadeiro significado da palavra conteúdo, que parece ter perdido seu real sentido atualmente.
Quero mais é adotar o slow living, um movimento que propõe uma vida mais equilibrada e saudável, onde o autoconhecimento, o consumo consciente e a sustentabilidade são conceitos valorizados.
Há seis meses deixei de ser cronicamente online para ser intencionalmente offline. Claro que não me isolei do mundo da internet e nem saí de todas as redes sociais. Mas saí daquela que, pra mim, era a mais viciante e, consequentemente, tóxica.
Em tempos tão estranhos e difíceis com tanta (des)informação, disputas por poder, polarização e discursos de ódio, prefiro escolher os campos de batalha onde irei estar. Pois nesta guerra entre as mídias sociais, a política e as big techs (que ditam as regras das plataformas digitais), somos meras marionetes em um jogo de controle e manipulação.
Amei, Fabíola! :)
Traduz muito o sentimento dessa geração. Off é o novo luxo, mas penso também que é luxo, para algumas classes, nem todo mundo pode de fato se desligar da internet (especialmente quando se trabalha com ela — mas isso pode ser pauta para outra conversa).
Há anos também me desvencilhei de redes sociais, hoje uso para trabalho apenas. É muita informação, muita gente dando opinião sobre absolutamente tudo. Olha, difícil, viu?
Sou total adepta ao slow living e content. Meus canais favoritos hoje têm sido YouTube e Substack, para consumir conteúdos mais longos e esvaziar a mente de tanto vídeo rápido e conteúdo genérico. E segundo uma pesquisa feita nos Estados Unidos, essa é uma tendência forte entre profissionais de marketing. Espero que chegue rápido ao Brasil e (para quem gosta, claro) que possamos fazer bom uso!